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quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Amapaense e seu namorado são condenados por barbárie em Belém

O advogado de Savana Nathália pretende pedir nulidade do processo. Segundo ele, a juíza Imagemque deu a sentença não julgar o caso, pois participou da fase de investigação quando autorizou a intercepção telefônica dos acusados.

Principal acusada de um dos crimes mais bárbaros já ocorridos no Pará, a macapaense Savana Nathália Barbosa Cruz, de 25 anos, foi condenada. Ela e seu namorado, o maranhense Raimundo Nonato Ferreira dos Santos, de 33 anos, foram sentenciados a 27 anos e oito meses de prisão pela brutal morte do técnico Joelson Ramos de Souza – assassinado a facadas, decapitado e esquartejado na suíte de um motel em Ananindeua, Zona Metropolitana da capital paraense, Belém, no dia 10 de julho deste ano. A decisão da Justiça – que condenou os acusados por crime de latrocínio (roubo seguido de morte) – saiu na manhã de segunda-feira (7).  A juíza Andréa Lopes Miralha, da 5ª Vara Penal da Comarca de Ananindeua, foi a responsável pela sentença.

Ontem (8), em Belém, o advogado de defesa de Savana, Cezar Ramos, anunciou que pretende mover uma ação com pedido de nulidade do processo. Para ele, a magistrada estaria comprometida no processo, já que ela participou da fase de investigação quando autorizou a intercepção telefônica dos acusados. “Durante as apurações da polícia, a juíza Andréa Miralha escutou as conversa dos acusados via telefone móvel. Naquele momento, ela infringiu o principio da imparcialidade do juiz, previsto no artigo 6º da Lei 9.296, de 1996”, alega. Ramos acha que sua cliente teria mais chance de defesa se o caso fosse julgado por homicídio e não latrocínio – como aconteceu. “Queremos que esse caso vá a júri popular”, explica.

Em Macapá, a reportagem de a Gazeta procurou o irmão da vítima. Jorge Damião Sousa Filho, não quis dar entrevista, mas disse que ficou sabendo da condenação pela internet – meio pelo qual acompanha o caso desde o início. Sobre a sentença, ele apenas declarou: “Se eles fossem condenados a cem anos, ainda seria pouco”. Joelson faria 33 anos de idade ontem.


 Savana contou como decapitou e esquartejou
Depois que foram presos, no dia 11 de agosto passado, Savana Nathália e o seu namorado, Raimundo Nonato, confessaram à polícia não só a motivação, mas também detalharam como planejaram e executaram a trama para assassinar o técnico em informática Joelson Ramos de Souza.

Os depoimentos do casal contidos no inquérito mostraram que um misto de traição, mentiras, ganância e ciúme formaram o triângulo amoroso que resultou na morte de Joelson. O crime foi cuidadosamente premeditado. Horas antes da barbárie, Savana e Raimundo foram até o supermercado de Shopping Center, onde compraram a faca que seria usada para matar e esquartejar a vítima, detergente para ajudar a limpar o sangue e os sacos plásticos onde colocariam os pedaços do corpo.

De posse do material, o casal entrou em um táxi e pediu ao motorista que indicasse um motel próximo e barato. O motorista sugeriu a Pousada Colonial, localizada na BR-316. Na chegada ao local, houve um pequeno entrevero com o taxista, que estranhou o fato de o casal pedir para ficar em dois quartos. “Não te mete”, retrucou, aborrecido, Raimundo Nonato. Na guarita da recepção, o casal pediu os dois apartamentos. A recepcionista solicitou uma identificação de Savana Nathália, que informou estar sem documento. A atendente então pediu ao motorista para baixar o vidro do carro, a fim de verificar se não se tratava de um menor de idade.
Já dentro do apartamento, orientada por Raimundo Nonato, Savana ligou para Joelson. O diálogo foi curto, mas insinuante: “Joelson, vem logo, não vai demorar”, disse ela ao amante. Quando a vítima chegou, depois de pagar uma corrida de mototáxi, encontrou Savana no apartamento 406, sentada na cama, aparentando nervosismo. “O que está acontecendo? Tu está nervosa…”, percebeu Joelson. Savana respondeu: “Tu não deverias estar aqui”. Ela dissimula buscar um copo de água no frigobar e aproveita para ligar para o apartamento 403, avisando Raimundo Nonato que havia chegado a hora. Sem que Joelson perceba, ela destranca a porta do apartamento.

A partir daí, começam as divergências nos depoimentos do casal. Savana contou que estava tirando a camisa do amante quando Raimundo entrou no quarto e surpreendeu Joelson com uma facada pelas costas. O assassino põe a mão na boca da vítima, impedindo-a de gritar, enquanto a golpeia com a faca outras vezes. Já Raimundo afirma, em sua versão, que ao entrar no quarto, Savana estava fazendo sexo com Joelson na cama. Tomado por uma fúria, ao ver a namorada com o amante, o acusado então atacou o rival com mais violência que o necessário – o laudo da morte de Joelson mostra que ele foi morto com 10 golpes nas costas e três no coração. Em seguida, começaram a cortar o corpo, conforme o combinado.

Outra divergência na confissão dos acusados está na participação de Savana no esquartejamento. Ela disse que, enquanto Raimundo Nonato decapitava a vítima, lhe coube a missão de cortar os dedos das mãos e dos pés, mas só teria conseguido decepar um, pois começou a vomitar. Já o comparsa sustenta que Savana foi quem se livrou das impressões digitais da vítima.
 
Casal fugiu após jogar cabeça da vítima no lixo
Em depoimento, Sanava e Raimundo confessaram que a ideia inicial era jogar as partes do cadáver de Joelson em uma cisterna nos fundos do motel, porém na última hora decidiram acondicioná-las nos sacos plásticos e sair rapidamente da pousada.
O primeiro a sair foi Raimundo Nonato. Ele pediu um táxi e levou, embrulhada dentro de um saco, a cabeça de Joelson, que foi jogada em uma lixeira em frente a uma loja na BR-316. Dez minutos depois, saiu Savana, em outro táxi. Ela apanhou o namorado às margens da rodovia e foram para o Terminal Rodoviário, em São Brás, na Zona Oeste de Belém.

Ficaram lá até o amanhecer, quando tomaram o primeiro ônibus para a cidade de Santa Isabel – situada a 39 km da capital. No dia seguinte, o caso ganhou a mídia. Quando viram pela televisão que o corpo esquartejado havia sido encontrado na pousada Colonial, os taxistas que tiveram contato com Raimundo e Savana procuraram a polícia e ajudaram a montar um retrato-falado da mulher, que foi mostrado em programas de televisão. Assustados, os acusados resolvem fugir. Eles vão de ônibus até Castanhal e depois Paragominas, onde pretendiam seguir viagem para Imperatriz, no Maranhão. A grande repercussão do caso – que durante vários dias foi o principal assunto da imprensa e da opinião pública – fez os criminosos mudarem o plano de fuga, pois seriam facilmente reconhecidos em Paragominas. Eles viajaram para Dom Eliseu, porque pretendiam chegar a Itaituba. Houve nova alteração na rota e ambos optaram por ficar em Novo Repartimento, onde resolveram se separar. Savana foi presa em uma embarcação em Almeirim, quando tentava voltar à sua terra natal, Macapá. Raimundo já estava no terminal rodoviário de Novo Repartimento, com a passagem comprada para o Maranhão, quando foi cercado pelos agentes da Divisão de Homicídios da Polícia Civil do Pará. Ambos foram presos na tarde do dia 11 de agosto, um mês após o crime.
 
Golpe, mentiras e ciúmes montaram triângulo amoroso
Os depoimentos no inquérito policial sobre o caso reconstituem toda a história do triângulo amoroso que envolveu Joelson, Nathália e Raimundo. O relato de Savana descreve uma paixão desvairada que o técnico em informática nutria por ela. Eles se conheceram em 2005, quando ele viajou visitou o pai e os irmãos, que moram no Estado do Amapá. Savana tinha então 19 anos e era uma moça muito simpática, dona de boa conversa, que se trajava bem e mantinha os cabelos aloirados. Para ele, foi paixão à primeira vista. Caiu de amores por aquela desconhecida e, a partir daquele encontro fortuito, passou a alimentar o firme desejo de formar uma família com ela. Passaram a se corresponder pela internet. Atribuía ao destino o fato de ter conhecido sua amada. Fazia planos e chegou a confidenciar isso a poucos amigos.

O mesmo não se pode dizer em relação à Savana. Enquanto alimentava as ilusões de Joelson, mantinha nas sombras um relacionamento firme com o maranhense Raimundo Nonato. Para agradar a amada, Joelson não economizava esforços. Dava a ela dinheiro e bons presentes – que acabavam beneficiando a outra ponta do triângulo amoroso. Confiando cegamente na mulher, ele chegou a revelar a senha de sua conta bancária – da qual ela sacou R$ 900 no dia seguinte ao crime.

Mas, além das declarações mútuas de amor, os negócios passaram a fazer parte da rotina do casal. Chegou ao ponto de a acusada propor uma sociedade a Joelson em uma lanchonete que seria aberta em Macapá. Iludido, ele não pensou duas vezes. Tratou de entregar o lugar na faculdade em que trabalhava e, com o dinheiro da indenização por anos de trabalho, resolveu abraçar a nova vida, ao lado da “mulher dos seus sonhos”, como costumava se referir a ela.

Os assassinos haviam combinado que o golpe da sociedade na lanchonete era a cartada final para encerrar o perigoso triângulo, afinal de contas, Savana e Raimundo Nonato se conheciam há mais tempo, tinham afinidades e gostavam de fato um do outro. Savana sabia que, “mais dia, menos dia”, teria que botar um fim no romance com o amante, pois os contatos com Joelson já estavam irritando a Raimundo, que a pressionava por uma escolha entre os dois homens.

O golpe
É claro que a preferência de Nathália era pelo namorado de verdade. Ciumento, Raimundo Nonato aceitou participar do golpe por ambição e esperança de lucro fácil, mas vivia de olho em Savana. As ligações começaram a ficar mais perigosas quando o técnico em informática, inocentemente, informou a ela que já estava de posse da quantia de R$ 2 mil, perguntando se ela tinha uma conta bancária para depositar a quantia. Joelson confiava cegamente na futura esposa e não sabia que estava, naquele momento, assinando sua própria sentença de morte.

Quando Joelson falou sobre o depósito, Savana disse que não tinha conta em banco. Ela já estava morando em Santa Isabel e disse, usando um telefone celular com prefixo de Macapá, que mandaria um emissário até a casa de Joelson para transportar os móveis e pegar o dinheiro – o que foi feito. Passados dois dias, Savana ligou de novo para Joelson avisando que o homem – que a polícia descobriu depois se tratar de Raimundo Nonato – contratado por ela para buscar os móveis e trazer o dinheiro tinha sumido. Diante disso, o técnico registrou um Boletim de Ocorrência.

Depois da conversa com Joelson, Savana contou o fato a Raimundo Nonato admitindo ter feito “uma besteira”. O amante retrucou: “Tu és doida. Liga para ele (Joelson) e pede pra retirar a queixa”. Foi a senha para começar a ser arquitetada a trama de morte. Savana revelou que o primeiro plano previa a compra de um revólver para Raimundo Nonato emboscar Joelson. Essa ideia foi abandonada e, por sugestão do maranhense, decidiram fazer diferente: atrair a vítima para um encontro num motel, onde seria morta e depois esquartejada, para facilitar a saída do corpo para desova em algum lugar mais afastado. O plano deu certo, mas ele não ficaram impunes.

Cronologia do crime

11 de julho
O corpo de Joelson é encontrado na pousada colonial, na zona metropolitana de Belém. O caso rapidamente toma a mídia e a opinião pública. Violência com que o crime ocorreu choca a sociedade paraense.


12 de julho
Após a divulgação de um retrato falado, uma denúncia anônima leva polícia até um quarto alugado em Santa Isabel. Moradores dão à polícia fotos de Savana e Raimundo, que foram tiradas durante uma festa na vizinhança. Começa a caçada.


13 de julho
O pai de Joelson, Jorge Damião Souza, que mora em Tartarugalzinho (AP), chega à Belém para fazer exame de DNA para identificar oficialmente o corpo, que até então havia sido reconhecido por uma cicatriz em um dos membros esquartejados.


14 de julho
Com a ajuda da família de Joelson e perícias no computador dele, a polícia identifica e divulga o nome de Savana Nathália Barbosa Cruz, nascida em Macapá, como a principal suspeita do bárbaro crime.


16 de julho
Sai o resultado do exame de DNA, que confirma: corpo era mesmo de Joelson. Cadáver é então liberado para sepultamento.


17 de julho
Os dedos das mãos e dos pés da vítima são encontrados na fossa da pousada Colonial. Mesmo sem a cabeça, corpo de Joelson é enterrado. Familiares externam consternação e revolta à imprensa.


22 de julho

Um casal de turistas macapaense é preso em Curralinho, interior do Pará. A população local tenta linchar os suspeitos, mas é impedida pela polícia. Mas os turistas foram confundidos. Após a confusão, a polícia decide colocar as investigações sob segredo de Justiça.


11 de agosto

A caçada chega ao fim. Savana Nathália é reconhecida dentro de um barco que tinha como destino o porto de Santana (AP). Ela é presa quando a embarcação faz uma escala em Almeirim (PA). Uma hora depois, Raimundo é preso no terminal rodoviário de Novo Repartimento. (Elder de Abreu /da subeditoria de aGazeta)
 
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