Desde o mês de maio, um projeto vem criando novas caixas de marabaixo e fazendo ecoar mais alto o batuque do tambor em Macapá. Com a ideia de multiplicar a cultura
marabaixeira, o projeto Banzeiro Brilho de Fogo, através de
instrutores, está levando a várias comunidades da capital oficinas para
ensinar desde a confecção
de uma caixa de batuque até o modo como tocá-las. Como resultado disso,
um desejo: promover um arrastão de cultura popular no mês de dezembro.
Um dos oficineiros, o músico Paulo
Bastos, destaca que é preciso ensinar o ritmo a todos os cantos da
cidade, para fazer o arrastão ganhar o maior número de adeptos. “Na
verdade, o projeto Banzeiro Brilho de Fogo tem um objetivo, que é formar batuqueiros pra um grande arrastão que vai sair
nas ruas, em dezembro, mas antes de sair com o bloco na rua, a gente
precisa formar pessoas que saibam tocar a célula rítmica da nossa
cultura, que é o marabaixo e o batuque. Então o projeto começa com as
oficinas”.
Segundo o professor, as oficinas
tiveram início no quilombo do Curiaú, já que a comunidade é parte da
origem desta cultura e seus integrantes também. “A primeira oficina
começou no Curiaú, por toda a essência do projeto. Então, nós começamos
no Curiaú porque parte dos coordenadores são de lá e nada mais justo do
que iniciar o projeto dentro da comunidade quilombola Curiaú”, explica.
Com a continuidade das oficinas, que acontecem em vários polos da capital, como a Casa Fora do Eixo, Espaço Caos e Quiosque
Locoreggae, o próximo passo serão os ensaios. “A partir do mês de
junho, nós estamos com a itinerância do projeto, onde estamos oferecendo
oficinas curtas, por seis dias, rodando por diversos pontos da cidade
até agosto, para cumprir todas essas oficinas. Justamente com o intuito
do grande arrastão no final do ano. Depois da sequência de oficinas, a
gente vai começar a sessão de ensaios, todo mundo que fez a oficina vai participar dos ensaios para estarem no grande arrastão, em dezembro”, informa Paulo.
Sobre
o arrastão, o instrutor realça que o movimento, além de pretender levar
mais de cem pessoas para as ruas, com suas caixas, também propõe a
mistura do ritmo tradicional e a música amapaense contemporânea. “A
ideia é levar, no mínimo, cem batuqueiros pra rua, num repertório que
une a cultura tradicional junto com essa música contemporânea, que é
filha dessa música tradicional, que é feita pelos nossos compositores da
música amapaense”.
Tendo mestres profissionais
renomados na arte do batuque e do marabaixo, como Huan Moreira, Paulinho
Queiroga, Marcelo da Favela, Laura do Marabaixo e outros, a didática
das oficinas consiste em familiarizar os alunos, primeiramente, ao
ritmo, de maneira teórica e depois transformar isto em um conjunto de
sons coordenados. A tática dá certo e os alunos conseguem aprender rapidamente, de acordo com
Paulo Bastos. “A gente começa as oficinas musicalizando, usando uma
parte da leitura de partitura, da parte métrica da leitura pra fazer com
que todo mundo toque a mesma coisa ao mesmo tempo. É um trabalho que é
dirigido e sempre com um comando, colocando as pulsações, como se eles
tivessem vendo a música na frente deles. A partir que a gente tem esse
domínio, a gente passa pra um método mais popular. Assim eles aprendem a
tocar muito rápido”.
Multiplicando
O projeto ousado traz como principal missão transformar os macapaenses em batuqueiros, tocadores de tambor e exemplos vivos da nossa cultura. “Essas músicas
como marabaixo e batuque são movimentos que são praticamente fechados,
pra você encontrar isso ou você vai numa comunidade quilombola ou você
espera o ciclo do marabaixo para ver isso. Um dos objetivos nosso é fazer com
que isso saia de dentro dessas comunidades e trazer isso pra um âmbito
geral, fazer com que todo mundo conheça, todo mundo tenha acesso a esse
tipo de música, que toque esse tipo de música. A gente tá de certa forma
trabalhando como multiplicador de tudo isso. A gente talvez, em uma
oficina, não consiga chegar a 100%, mas se a gente chegar a 50% pra mim
já é ótimo. É também um trabalho de utilidade pública, de utilidade
cultural”, assim conceitua o instrutor.
Marabaixo nas escolas
Não é de hoje que se ouve falar em
inserir o marabaixo nas escolas do estado, mas também não é de hoje que
ainda não conquistamos essa soma na educação
do amapaense. Como professor, Paulo Bastos ressalta que incluir o
marabaixo nas escolas torna a identidade do estado e do povo mais
evidente. O que falta é iniciativa para mudar este quadro.
“Primeiramente, de uns dois ou três anos pra cá foi lançado um projeto
que era “Música na Escola”, era um projeto federal, que faria parte do currículo
escolar. Era uma realidade para acontecer e não acontece. Então a gente
esbarra nessa falta de entendimento da real responsabilidade, do real
significado que a música tem na educação ,
como instrumento de formação do ser humano, do indivíduo, do estudante
que tá ali. Porque a arte em si, é um elemento que vai dar sustentação
para o futuro de crianças. E é bom ter uma identidade, e a identidade
vem da cultura, é bom você ter uma identidade, você ter alguma coisa que
te represente”.
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