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domingo, 8 de junho de 2014

Aprender a tocar batuque e marabaixo torna-se realidade em Macapá

As aulas vão até o mês de agosto, que serão seguidas por ensaios. Foto: Helder Ramon/A GazetaDesde o mês de maio, um projeto vem criando novas caixas de marabaixo e fazendo ecoar mais alto o batuque do tambor em Macapá. Com a ideia de multiplicar a cultura marabaixeira, o projeto Banzeiro Brilho de Fogo, através de instrutores, está levando a várias comunidades da capital oficinas para ensinar desde a confecção    de uma caixa de batuque até o modo como tocá-las. Como resultado disso, um desejo: promover um arrastão de cultura popular no mês de dezembro.
Um dos oficineiros, o músico Paulo Bastos, destaca que é preciso ensinar o ritmo a todos os cantos da cidade, para fazer o arrastão ganhar o maior número de adeptos. “Na verdade, o projeto Banzeiro Brilho de Fogo tem um objetivo, que é formar batuqueiros pra um grande arrastão que vai sair nas ruas, em dezembro, mas antes de sair com o bloco na rua, a gente precisa formar pessoas que saibam tocar a célula rítmica da nossa cultura, que é o marabaixo e o batuque. Então o projeto começa com as oficinas”.
Segundo o professor, as oficinas tiveram início no quilombo do Curiaú, já que a comunidade é parte da origem desta cultura e seus integrantes também. “A primeira oficina começou no Curiaú, por toda a essência do projeto. Então, nós começamos no Curiaú porque parte dos coordenadores são de lá e nada mais justo do que iniciar o projeto dentro da comunidade quilombola Curiaú”, explica.
Com a continuidade das oficinas, que acontecem em vários polos da capital, como a Casa Fora do Eixo, Espaço    Caos e Quiosque    Locoreggae, o próximo passo serão os ensaios. “A partir do mês de junho, nós estamos com a itinerância do projeto, onde estamos oferecendo oficinas curtas, por seis dias, rodando por diversos pontos da cidade até agosto, para cumprir todas essas oficinas. Justamente com o intuito do grande arrastão no final do ano. Depois da sequência de oficinas, a gente vai começar a sessão de ensaios, todo mundo que fez a oficina vai participar dos ensaios para estarem no grande arrastão, em dezembro”, informa Paulo.
Sobre o arrastão, o instrutor realça que o movimento, além de pretender levar mais de cem pessoas para as ruas, com suas caixas, também propõe a mistura do ritmo tradicional e a música amapaense contemporânea. “A ideia é levar, no mínimo, cem batuqueiros pra rua, num repertório que une a cultura tradicional junto com essa música contemporânea, que é filha dessa música tradicional, que é feita pelos nossos compositores da música amapaense”.
Tendo mestres profissionais renomados na arte do batuque e do marabaixo, como Huan Moreira, Paulinho Queiroga, Marcelo da Favela, Laura do Marabaixo e outros, a didática das oficinas consiste em familiarizar os alunos, primeiramente, ao ritmo, de maneira teórica e depois transformar isto em um conjunto de sons coordenados. A tática    dá certo e os alunos conseguem aprender rapidamente, de acordo com Paulo Bastos. “A gente começa as oficinas musicalizando, usando uma parte da leitura de partitura, da parte métrica da leitura pra fazer com que todo mundo toque a mesma coisa ao mesmo tempo. É um trabalho que é dirigido e sempre com um comando, colocando as pulsações, como se eles tivessem vendo a música na frente deles. A partir que a gente tem esse domínio, a gente passa pra um método mais popular. Assim eles aprendem a tocar muito rápido”.
Multiplicando
O projeto ousado traz como principal missão transformar os macapaenses em batuqueiros, tocadores de tambor e exemplos vivos da nossa cultura. “Essas músicas    como marabaixo e batuque são movimentos que são praticamente fechados, pra você encontrar isso ou você vai numa comunidade quilombola ou você espera o ciclo do marabaixo para ver isso. Um dos objetivos nosso é fazer com que isso saia de dentro dessas comunidades e trazer isso pra um âmbito geral, fazer com que todo mundo conheça, todo mundo tenha acesso a esse tipo de música, que toque esse tipo de música. A gente tá de certa forma trabalhando como multiplicador de tudo isso. A gente talvez, em uma oficina, não consiga chegar a 100%, mas se a gente chegar a 50% pra mim já é ótimo. É também um trabalho de utilidade pública, de utilidade cultural”, assim conceitua o instrutor.
Marabaixo nas escolas
Não é de hoje que se ouve falar em inserir o marabaixo nas escolas do estado, mas também não é de hoje que ainda não conquistamos essa soma na educação do amapaense. Como professor, Paulo Bastos ressalta que incluir o marabaixo nas escolas torna a identidade do estado e do povo mais evidente. O que falta é iniciativa para mudar este quadro. “Primeiramente, de uns dois ou três anos pra cá foi lançado um projeto que era “Música na Escola”, era um projeto federal, que faria parte do currículo    escolar. Era uma realidade para acontecer e não acontece. Então a gente esbarra nessa falta de entendimento da real responsabilidade, do real significado que a música tem na educação   , como instrumento de formação do ser humano, do indivíduo, do estudante que tá ali. Porque a arte em si, é um elemento que vai dar sustentação para o futuro de crianças. E é bom ter uma identidade, e a identidade vem da cultura, é bom você ter uma identidade, você ter alguma coisa que te represente”.

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