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sábado, 15 de outubro de 2011

Após oito meses de espera e ações judiciais, paciente consegue realizar cirurgia

Para não correr o risco de ficar com uma segunda prótese presa ao corpo, Rosiclé Sardinha assumiu os riscos do tratamento e preferiu utilizar bota imobilizadora.
Rosiclé Sardinha Gonçalves respirou aliviada na noite de ontem (14). Por volta das 13h00, ela foi conduzida a sala de cirurgia para, após oito meses de batalhas judiciais e descontentamento com a saúde pública, remover a prótese da perna direita, que foi fraturada em um acidente de trânsito.
Ela optou por não utilizar uma segunda prótese, que corrigiria um desvio entre o alinhamento da perna e o pé direito. “Se já demorou para eu conseguir atendimento para retirar esses pinos, imagina o quanto demoraria para requerer a segunda operação. Preferi assumir esse risco”, disse Rosiclé Sardinha.
A peregrinação da educadora em busca de atendimento médico foi relatada por a Gazeta há cerca de duas semanas. O ferimento havia piorado e ela recorreu a justiça federal para garantir a realização da operação. Entretanto, o suposto atraso de pagamento da empresa que fornece órteses e próteses para a Secretaria Estadual de Saúde (Sesa) pode ter provocado a interrupção nas cirurgias marcadas no setor de ortopedia e traumatologia do Hospital das Clínicas Alberto Lima (HCAL).
No dia 7, Rosiclé esteve no Conselho Regional de Medicina (CRM) para denunciar o caso. Lá, ela encontrou com o seu ortopedista, Dr. Joel Brito e com o presidente do Sindicato dos Médicos (Sinmed), Fernando Nascimento. Que confirmou a suspensão dos atendimentos cirúrgicos no HCAL. “Está suspensa a transferência de pacientes do Pronto Socorro para o Hospital Geral por falta de material para realizar as operações”, anunciou Fernando na última quinta-feira.
A solução foi procurar a Justiça Federal, que no dia 26 de agosto encaminhou uma relação de cinco pacientes que pediram antecipação de tutela em favor de atendimento médico especializado. A decisão judicial determinou ao secretário de Saúde, Edilson Pereira que cumprisse imediatamente os serviços de cirurgia, internação, acompanhamento pós-operatório e fornecimento de medicamentos necessários a total recuperação dos pacientes.
Em caso de descumprimento da determinação, a Secretaria seria punida com multa diária no valor de R$ 5 mil e o secretário de saúde também poderia desembolsar 20% deste total para cobrir multa pessoal. Mesmo com tantos indicativos de que o atendimento poderia ser prestado, a Secretaria de Saúde se quer comunicou aos pacientes sobre uma possível marcação dos procedimentos.
O acidente impediu que Rosiclé continuasse nos dois empregos que mantinha, como almoxarife e monitora de um projeto do governo federal. Com o afastamento das atividades, a renda da família que era de aproximadamente R$ 3 mil, reduziu para R$ 800, referente ao seguro desemprego do esposo. Ele precisou abandonar o emprego para cuidar de Rosiclé.
Desde então, a paciente tem contado com a ajuda da família para custear as despesas com o tratamento. Ao optar por não implantar a segunda prótese no corpo, ela terá que adquirir uma bota imobilizadora no valor de R$ 136. Além de arrecadar dinheiro para comprar os medicamentos antiinflamatórios necessários a recuperação.
“O meu exemplo serve para outras pessoas não desanimarem diante do primeiro obstáculo. Eu me revoltei várias vezes, não sabia mais a quem recorrer, mas mesmo assim fui atrás dos meus direitos. É lamentável o que os pacientes precisam passar neste estado para garantir atendimento na rede pública”, declarou ela, algumas horas depois da cirurgia.

A GAZETA

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