Pouco habitada nos últimos 24 anos, a casa da Avenida Carlos Gomes,
em Macapá, modesta para os padrões do ilustre dono, passou por uma
reforma e deve voltar a ser mais visitada neste ano eleitoral pelo
ex-presidente da República e hoje senador José Sarney (PMDB-AP). Após
sair da presidência com a maior rejeição registrada por um mandatário na
história recente do país, Sarney teve que buscar uma vaga de senador,
em 1990, pelo então emancipado Amapá, porque o PMDB lhe negou a legenda
em sua terra natal, o Maranhão. Dos amapaenses, Sarney já ganhou três
mandatos, mas a atenção dispensada por ele ao eleitorado de seu
domicílio eleitoral é mínima, de acordo com políticos do estado. Sarney
diz que só decidirá a partir de março se disputará outro mandato e lista
benefícios que aprovou ou ajudou a aprovar para o Amapá.
Na casa
onde funciona seu domicílio eleitoral em Macapá morava, até
recentemente, um aliado seu, José Carlos Alvarenga, diretor do Sebrae.
Mas hoje a casa está fechada. As outras residências do senador estão na
Praia do Calhau e na Ilha do Curupu (MA) e na antiga Península dos
Ministros, no Lago Sul, em Brasília.
As idas de Sarney ao Amapá
são tão raras que, quando ele chega lá, quase sempre de jatinho, para
passar algumas horas ou no máximo três dias, é um acontecimento que
ganha manchetes nos jornais locais. Uma vizinha da casa de Sarney em
Macapá conta:
“Minha querida, as visitas de Sarney aqui já viraram
piadinhas! É motivo de riso. Moro perto da casa dele e nunca o vi por
aqui. E olha que ando bastante! A casa está sempre fechada, mas como
este ano tem eleição, já começamos a ver um movimentozinho”, disse
Cássia Danúbia Soares Ribeiro, moradora da Avenida Carlos Gomes.
Os
eleitores e políticos do Amapá reclamam do pouco esforço dele, mesmo
com o poder que tem no governo, para liberar suas emendas parlamentares
ao Orçamento para obras no estado. Pelo levantamento da execução
orçamentária de 2013, ele destinou emendas para Macapá (R$ 2 milhões),
Mazagão (R$ 7,5 milhões) e Santana (R$ 2,5 milhões), entre outras.
Apesar de autorizadas, nenhum centavo foi pago. A única emenda dele
empenhada e paga foi uma de caráter nacional, para a Fundação Pioneiras
Sociais (R$ 743 mil), que administra a rede do Hospital Sarah
Kubitischek.
Sarney costuma visitar o Amapá em datas importantes.
No primeiro ano como senador eleito do Amapá, passou seu aniversário lá.
Depois, aboliu essa ideia. Nos meses de dezembro ainda vai ao estado
para fazer uma já tradicional festa com políticos e jornalistas num
hotel da cidade, que inclui o sorteio de brindes.
O ano que Sarney
passou mais tempo no Amapá, cerca de 30 dias, foi na campanha de 2006,
quando quase perdeu para a então desconhecida Cristina Almeida (PSB).
Precisou gastar muita sola de sapato no corpo a corpo. Em 2010, no dia
da eleição presidencial, foi a Macapá de jatinho, por volta das 7h da
manhã. Votou e, ao meio-dia, voltou para o Maranhão. Em 2013, ele esteve
lá só duas vezes, em abril e dezembro.
“As promessas dele não
saíram do papel. O aeroporto de Macapá teve a obra parada em 2004 porque
o dinheiro sumiu e hoje só tem lá o esqueleto. Quando fui governador,
Sarney não permitiu que o governo federal repassasse um centavo para o
estado e só governei com os repasses constitucionais”, disse o senador
João Alberto Capiberibe (PSB), seu adversário político.
Terceiro senador pelo Amapá, Randolfe Rodrigues (PSOL) tem boa relação com Sarney, mas cobrou:
“Não
julgo a escolha do povo do Amapá que elegeu o Sarney, mas ele deveria
ter mais respeito com os eleitores e ir ao estado com mais frequência.
Poderia ir pelo menos uma vez ao mês. E se ele disser que atua pelo
Amapá aqui em Brasília, está mentindo. Desde 2011, não o vejo em reunião
de bancada.”
SARNEY LISTA OBRAS – Recolhido no Maranhão, onde
dona Marly Sarney se recupera de um acidente, Sarney respondeu, por meio
de sua assessoria: disse que vai ao Amapá todas as vezes que é preciso e
que não decidiu se será candidato novamente.
Ele diz que sua
aprovação é alta no estado e faz uma avaliação positiva de seus mandatos
de senador pelo Amapá. “Tenho residência em Macapá, Avenida Carlos
Gomes, 920. A lei permite a todas as pessoas terem várias residências e
escolher uma delas para domicílio eleitoral. Estou sempre no Amapá,
todas as vezes que é preciso. Fui eleito para representar o Amapá em
Brasília, onde é o Senado”, disse por e-mail.
Sarney listou obras
para o Amapá como de sua iniciativa: “Quase tudo que foi criado nesses
24 anos no Amapá tem a minha ajuda. Foram iniciativas minhas a Área de
Livre Comércio Macapá-Santana, o carro-chefe da economia amapaense,
responsável por 80% dos empregos. Criei a Zona Franca Verde, foi minha
iniciativa três hidroelétricas que estão construindo no Amapá, a 1ª
começa a funcionar em junho deste ano”, disse, citando ainda o trabalho
pela liberação de verbas para obras de urbanização da capital e
interior.
Sobre a acusação de que persegue adversários locais,
afirmou por e-mail: “Nunca impedi qualquer repasse. Apoiei a eleição do
Capiberibe ao governo e todas as outras obras que ele fez pelo estado.
Quanto ao prefeito da capital, Clécio Luís, temos ótimas relações e
também sempre procuro ajudar a cidade (…) Tenho apoio das maiores
lideranças do estado. Tenho hoje, na última pesquisa, de dezembro, 50,6%
das intenções de voto do eleitorado, os outros candidatos reunidos tem
22%”.
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